sexta-feira, outubro 27, 2006

O gamão (parte II)

Outra coisa interessante neste jogo é que o gamão tem um número muito menor de posições legais (aproximadamente 10^20) que o Go ou mesmo que o xadrez mas não se presta a uma análise por força-bruta como este último. Isto porque o número de jogadas possíveis em cada posição, normalmente 20, multiplicado pelo número de possibilidades dos dados, torna o número de possibilidades a analisar em cada posição da ordem das centenas. Assim sendo, seria de esperar que o gamão resistisse aos ataques dos computadores. Contudo, não é esse o caso. Os melhores programas de computador de gamão estão ao nível de ou ligeiramente acima dos melhores jogadores humanos. Usam técnicas da Inteligência Artificial que parecem intuitivamente levar mais facilmente a agentes inteligentes do que pesquisa de força-bruta: redes neuronais e outras formas de aprendizagem.

Interessante ver, pois, que os jogos mais conhecidos na antiguidade são jogos de dois jogadores, mas que materializam formas diferentes de olhar para a estratégia como parte integrante de um jogo de tabuleiro. O xadrez e o Go fazem depender o seu desfecho unicamente do mérito e da perícia dos seus jogadores, ao passo que o gamão reconhece que existe um factor desconhecido, a sorte, que influencia a vida de uma pessoa.

Falo aqui ainda de jogos abstractos, que demonstram o poder de abstracção que as culturas que os inventavam, há milhares de anos atrás, já possuíam. E é talvez devido a essa universalidade que estes jogos continuam, na actualidade, a ser jogados.